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Mercado do café: doenças e clima mudam perspectiva para a próxima safra

Mercado do café: doenças e clima mudam perspectiva para a próxima safra

A safra de café a ser colhida em 2023 pode não ter o volume inicialmente esperado diante de problemas como ocorrência de chuvas de granizo em algumas regiões produtoras, a manifestação de algumas doenças e a redução de tratos culturais pelos produtores em virtude dos preços mais baixos do produto. Neste post, especialistas falam das perspectivas da safra e orientam como deve ser o manejo da cultura.
O volume satisfatório de chuvas no início da florada do café que vai ser colhido a partir de maio de 2023 animou os produtores e esta perspectiva muito positiva foi um dos principais fatores que ajudaram a “derrubar” os preços do produto no mercado internacional, afirma Haroldo Bonfá, diretor da Pharos Consultoria. O preço da commodity na bolsa de Nova York, considerando o contrato vencimento março, recuou para US$ 1,55 a libra-peso no final de novembro, depois de ter batido US$ 2,35 a libra-peso em agosto. Outro fator que ajudou a reduzir os preços do café foram as exportações volumosas em setembro e outubro, indicando que o Brasil tinha volume significativo de café disponível. Os embarques mais elevados foram resultado da intensificação das vendas dos grãos que ainda vão ser colhidos nas safras 2023 e até 2024 por parte dos produtores em meses anteriores, e que já foram entregues. Apesar de a venda das safras futuras não ser incomum, produtores precisam vender 30% a 40% do que imaginam que vão colher, orienta Bonfá.

Mudança de perspectiva para a safra 2023
Depois das geadas, as chuvas contribuíram para uma florada “bonita”. Entretanto, depois, chuvas de granizo em regiões específicas, como no Sul de Minas, Alta Mogiana e até Cerrado Mineiro, mudaram as perspectivas de volume a ser colhido no ano que vem. As chuvas de granizo, no conjunto, foram consistentes e devem impactar a produção, de acordo com Bonfá. Entretanto, ainda é cedo para fazer estimativas de produção, embora o diretor da consultoria acredite que a safra 2023 pode ter uma produção próxima às estimadas 59 milhões de sacas colhidas este ano, contra 56 milhões de sacas em 2021. Já a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em seu levantamento divulgado em setembro calculou a colheita brasileira de café de 2022 em 50,4 milhões de sacas, 5,6% de aumento em relação a 2021.
O cenário depois do pós-colheita deste ano e até o início da florada era de que a produção do próximo ano poderia ultrapassar a de 2022, que tradicionalmente seria uma safra cheia diante da bienalidade do cafeeiro. Apesar da expectativa de bienalidade positiva em 2022, o potencial produtivo foi afetado pela seca e frio antes da floração, causando o abortamento de chumbinhos, além de geadas que acabaram por reduzir a produção deste ano. Entretanto, o cenário para 2023 mudou com a queda brusca do preço do produto, além da pressão de doenças que começaram a aparecer nos cafezais, diz César Pirajá, engenheiro agrônomo e gerente nacional da cultura de café da Satis.
Os cafeicultores estão muito desanimados com os preços atuais do grão, reduzindo assim os investimentos e tratos culturais, sem saber como serão as perspectivas de preço do café para os próximos meses. Além disso, muitos produtores estão descapitalizados com as últimas safras, o agrônomo adiciona.

Pressão de doenças
Além do granizo que ocorreu em algumas regiões, os produtores também relatam a ocorrência de phoma, doença provocada por fungo, e mancha aureolada, causada por uma bactéria. O próprio granizo é considerado uma porta de entrada para o aparecimento destas doenças, mas elas também estão presentes em áreas que não foram atingidas pelo granizo. Os agrônomos e técnicos não sabem bem o que está provocando a grande incidência destas doenças, porém Pirajá lembra que chuvas muito fortes, com ventos fortes, como ocorreram nos últimos tempos, causam danos às plantas, pois ferem as folhas, e acabam facilitando a entrada de doenças. “É difícil mensurar os danos agora”, mas haverá uma quebra da safra que era esperada antes da ocorrência destes problemas, afirma o agrônomo. Em janeiro, possivelmente será possível ter uma perspectiva melhor do volume a ser colhido em 2023.

La Niña
Neste período de granação e maturação dos grãos, as chuvas são necessárias e estão previstas para ocorrer no curto prazo, diz Bonfá, da Pharos Consultoria. O mercado, porém, está atento à condição do fenômeno meteorológico La Niña e como isso pode afetar a cultura do café no primeiro semestre de 2023. A La Niña pode ocasionar um menor volume de chuvas em um período em que as chuvas ajudam significativamente na granação final dos grãos. Entretanto, os modelos meteorológicos podem mudar até lá.

Manejo
A orientação para os produtores neste momento de alta incidência de doenças é monitorar sempre a lavoura, e procurar a orientação de um técnico agrícola ou engenheiro agrônomo para fazer um correto diagnóstico da lavoura, segundo Pirajá, da Satis. Ao se constatar o aparecimento de alguma doença, o produtor não deve perder tempo e fazer logo a aplicação de produtos para combater o problema. Quanto antes for feita a aplicação com os produtos adequados, melhor é o combate. Se tiver chovido granizo, a recomendação é que o produtor pulverize os cafeeiros o quanto antes para fazer o chamado “curativo”, alerta o agrônomo.