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Mercado do café: já é hora de travar o preço?

Apesar dos efeitos da pandemia sobre o consumo mundial, o mercado de café vem registrando altas expressivas ao longo do último ano. Somente em fevereiro de 2021, a alta foi de 11,1% no mercado físico brasileiro, com o preço chegando a R$750/saca. Os dados fazem parte do relatório agromensal do Itaú BBA divulgado neste mês de março. 

Os analistas dizem que são os fundamentos de oferta e demanda que mais estão impactando nesta valorização. Segundo eles, a baixa quantidade de grãos de café arábica nas lavouras brasileiras foi ficando cada vez mais visível. As estimativas de quebra na atual safra de café variam entre 26% e 40%, no caso do arábica. 

O diretor da corretora Comcor, Luiz Eduardo de Paula, lembra que contratos liquidados este ano, que foram fechados no ano passado, alcançavam valores de R$500/saca. Agora, é possível fechar contratos futuros na bolsa para 2022 por R$900/saca. Ele explica que após todos os descontos do custo de preparo, o preço ainda ficará acima de R$800/saca, o que é considerado uma excelente remuneração pelo café. Luiz Eduardo de Paula recomenda que o produtor faça a comercialização de forma escalonada, vendendo uma parte de forma antecipada e outras parcelas mais adiante. 

O relatório do Itaú BBA também ressalta que alguns produtores seguem segurando a comercialização em busca de preços ainda mais altos. Mas alerta que, para o ano que vem, o risco é maior. Tudo vai depender da próxima safra e também dos estoques mundiais. Em algumas regiões do Brasil, a avaliação é que os problemas climáticos desta safra, ao prejudicar o desenvolvimento vegetativo, também podem provocar uma produtividade menor na próxima safra. Mas não há consenso sobre isso. O diretor da Comcor, por exemplo, pondera que o café consegue se recuperar mesmo a chuva vindo mais tardiamente e que, na prática, após esta colheita é que veremos a condição dos cafezais para o próximo ciclo. 

Desta forma, os analistas concordam que pode ser um bom negócio travar o preço em R$800/saca para 2022 e 2023. “São valores que não eram vistos desde 2011", diz o Itaú BBA.  A tese está baseada na expectativa de que produção se normalize em 2022 e também considera o risco de mudança no câmbio no ano que vem.

Para os próximos meses, a perspectiva para a demanda por café segue altista.  Isso porque países desenvolvidos, grandes consumidores de café fora de casa, estão avançando rapidamente com a vacinação contra a Covid-19. "Se espera um maior  consumo fora de casa a partir do segundo semestre de 2021", ressalta o Itaú BBA. Além disso, os estoques de café verde nos Estados Unidos, por exemplo, tiveram queda de 12% em janeiro de 2021, na comparação com o mesmo período do ano passado, ficando em 5,8 milhões de sacas. Também houve queda de 2% na comparação com dezembro de 2020.

Apesar da perspectiva positiva para o preço do café, os custos devem pesar mais daqui pra frente. Os fertilizantes ficaram mais caros em função da alta do dólar, algo que será sentido com mais força após a colheita, quando começar a adubação no segundo semestre para o próximo ciclo que, em tese, será de safra alta.