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Mercado do café: preços podem subir ainda mais?

O mercado de café arábica vem registrando recordes de preços nos últimos meses e as cotações podem subir ainda mais diante de estimativas de queda na produção desta safra 2021/2022 em função do clima adverso. As exportações em alta e as perspectivas de incremento do consumo mundial, com o avanço da vacinação contra o coronavírus em alguns mercados, também contribuem para a estimativa otimista.
A atual falta de chuvas em algumas regiões produtoras pode afetar ainda mais a produção já castigada pela seca durante a floração, em setembro do ano passado, explica Haroldo Bonfá, analista de mercado e diretor da Pharos Commodity Risk Management. "Naquele período, já se previa uma queda de até 30% na produção a ser colhida este ano comparada à safra anterior", diz o analista. Ele alerta que as perdas podem ser ainda maiores, mas variam dependendo da região, ou se há uso de irrigação, por exemplo.
Um relatório mensal do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) diz que a falta de água está acelerando o amadurecimento nos cafezais, o que traz preocupações quanto ao tamanho dos grãos. Em abril, o índice Cepea/Esalq para o café arábica entregue em São Paulo registrou um recorde nominal na série que começou a ser feita em 1996, fechando a R$ 788,80 por saca em 29 de abril.
O analista da Pharos explica que a tendência é de alta nos próximos meses e, pelo menos, até o inverno de 2022, já que muitos fatores climáticos como secas e geadas no inverno ainda podem prejudicar a produção. Além disso, qualquer problema relacionado ao não-cumprimento de contratos de exportações firmados anteriormente em função de uma possível quebra de safra maior que a esperada também pode ajudar a sustentar os preços, ele explica. Os preços na bolsa de Nova York saíram de patamares inferiores a US$ 1 por libra-peso para uma média atual de US$ 1,40, o que junto com a desvalorização do real frente à moeda americana, resultou em valores recordes em reais.
Embora atualmente os cafeicultores disponham de sistemas tecnológicos mais sofisticados para fazer medições mais apuradas de sua futura produção, ainda não se sabe se a colheita apresentará perdas ainda maiores, de acordo com o analista da Pharos. “Agora o produtor precisa ver o que ele realmente produziu, administrar as vendas (internas e exportação) que ele fez para honrar os compromissos”.
Além de os preços seguirem firmes no mercado internacional, muitos analistas de mercado não projetam oscilações extremamente bruscas do câmbio, com perspectiva de um dólar equivalente a R$ 5,20 a R$ 5,30 até o fim do ano, cita Bonfá. Os custos para o cafeicultor também aumentaram diante da correlação entre os preços do petróleo/dólar/fertilizante, mas ainda assim o produtor está conseguindo uma boa remuneração, de forma geral, já que os preços pagos pelo café subiram mais do que os custos, reitera o analista.
Mais um fator que contribui para a perspectiva de alta nos preços é a exportação do grão, que também vem batendo recordes, com perspectiva de atingir 47 milhões de sacas de arábica embarcadas no ano-safra que vai de julho de 2020 até junho deste ano, estima a Pharos Consultoria.
Outro elemento importante que deve ajudar a sustentar as cotações do café nos próximos meses são as perspectivas de aumento do consumo nos Estados Unidos - maior país consumidor mundial do grão- e em outros mercados consumidores com o avanço da vacinação contra a Covid-19 e o relaxamento das restrições impostas pela pandemia. O consumo mundial de café, de modo geral, não recuou durante a pandemia, mesmo com problemas pontuais, ressalta o analista, citando dados da Organização Internacional do Café (OIC).