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Preço do trigo: saiba as tendências para os próximos meses

Os preços do trigo estão em trajetória de alta desde o ano passado. Mas até quando este cenário vai continuar? As cotações internacionais seguem sustentadas com o forte apetite da China pelo cereal e problemas climáticos que prejudicaram a produção no Hemisfério Norte. Já no mercado interno, os triticultores podem ver uma desaceleração nos preços diante da grande oferta e da comercialização lenta. Os especialistas recomendam comercializar logo a safra e evitar especulações.
No mercado interno do Rio Grande do Sul, o segundo maior estado produtor de trigo do país depois do Paraná, os preços quase dobraram de 2020 para cá, saindo de R$ 840 para R$ 1580 a tonelada entregue no porto de Rio Grande em meados de outubro, diz Marcelo De Baco, analista de mercado da De Baco Corretora. O câmbio, é claro, deu uma grande contribuição à cotação em reais, aliado ao comportamento dos preços internacionais.
As cotações lá fora foram impulsionadas por problemas climáticos nos maiores produtores globais da commodity do Hemisfério Norte que afetaram as safras de inverno e primavera da região e, também em grande parte, suportadas pela volumosa demanda chinesa. A China, que hoje figura entre os dois maiores importadores mundiais do cereal, usa em torno de 40% de seus estoques de trigo para ração.
Tudo indica que os preços internacionais do trigo vão continuar altos com a perspectiva de redução de área plantada da Rússia, maior exportador global da commodity, e demanda firme global com a retomada das economias no pós-pandemia, acredita Vlamir Brandalizze, analista de mercado da Brandalizze Consulting. O governo da Rússia vem controlando e limitando as exportações, e a produção do país já foi reduzida em cerca de 13 milhões de toneladas na safra que terminou em meados deste ano frente à temporada anterior, para 72 milhões de toneladas. Patamares entre US$ 7,40 a US$ 8 o bushel podem continuar em 2022, diz Brandalizze.
Se lá fora os preços devem continuar sustentados, no mercado interno, pode haver uma desaceleração das cotações atuais até março. Isso porque há um excedente de oferta com a entrada da safra, que tende a aumentar em novembro e dezembro, falta de espaço para armazenamento do produto e falta de liquidez, já que a demanda não acompanha no mesmo ritmo. É que os moinhos só vêm comprando o estritamente necessário, pois não têm como arcar com os custos cada vez maiores de armazenamento e descarregamento do cereal. Os moinhos não querem carregar estoques também por conta da atual situação econômica brasileira, com a fraca demanda por farinha, explica De Baco.
Apesar do cenário ainda incerto para os preços do trigo, o corretor aconselha o produtor a evitar especular neste momento quando as cotações ainda estão altas e os preços são considerados “muito bons”. O agricultor pode querer deixar para vender o produto daqui a alguns meses na ânsia de obter preços mais altos e de evitar mais cobranças sobre os rendimentos com a venda do cereal na sua declaração de imposto de renda ao comercializar um maior volume no ano de 2021.
A orientação é vender o “máximo (volume) e o mais rapidamente possível”, pois quem esperar para comercializar a safra em janeiro vai encontrar um mercado desorganizado, pondera o analista. Isto
porque o início do ano coincide com a colheita de milho, o que pode impactar negativamente as cotações do trigo, além de poder faltar espaço para a armazenagem do cereal.
Os triticultores já tiveram uma margem “fantástica” neste ano nas palavras do analista, o que permite que ele compre logo os insumos da próxima safra, evitando problemas como o risco de desabastecimento desses insumos.
“Nunca vi uma situação tão favorável de preços em 30 anos que acompanho o mercado”, enfatiza o analista. “O que vai segurar o preço é o câmbio”, acrescenta.
Já o analista Brandalizze acredita que os preços do trigo direcionado aos moinhos no mercado interno também têm fôlego para permanecerem firmes com o bom ritmo das exportações do cereal.
No Rio Grande do Sul, a safra de 2021 deverá registrar uma quebra significativa frente à previsão inicial de 3,5 milhões de toneladas por causa das intempéries climáticas. A safra no estado enfrentou uma somatória rara de eventos climáticos para uma mesma temporada: geada, seca e chuva na colheita. Por isso, as estimativas iniciais são de uma colheita de 2,9 milhões de toneladas com possibilidade de prejuízo na qualidade do trigo. Entretanto, ainda é cedo para quantificar estes efeitos adversos porque a colheita ainda está em ritmo inicial, cerca de 15% da safra até 17 de outubro.
De acordo com o último levantamento da Conab, a produção brasileira total de trigo na safra 2021 é estimada em 8,2 milhões de toneladas, contra 6,2 milhões de toneladas em 2020.